Trânsito para o cidadão
Primeiramente é importante o lembrete do colunista Valter Ostermann da necessidade do uso da bicicleta na busca de um trânsito mais humano para Blumenau, mas argumentando que Blumenau tem morros e que as ciclovias são um remendo. Saliento que a topografia não é o maior empecilho ao seu uso na cidade e sim o próprio desenho da cidade. Digo ainda, com convicção, que não é necessário construir ciclovias em todas as ruas, apesar do seu custo girar em torno de um décimo do custo de uma via normal. Tal afirmação pode parecer absurda por minha parte, especialista em projetos desta natureza e defensor delas.
De fato, Blumenau deveria ser pensada em termos de rotas cicloviárias. Isso significa que deveríamos ter, em conjunto, várias medidas, como ciclovias (ver exemplo próximo ao Terminal PROEB), ciclofaixas (sinalização na via para ciclistas trafegarem somente numa mão), passeios compartilhados (alargamento das calçadas para uso comum com sinalização e rampas adequadas), ruas residenciais com medidas de calmaria de tráfego com sinalização para ciclistas (medidas como faixas de pedestres no nível da calçada operando como redutores de velocidade de veículos nestas áreas). Aliados a bicicletários seguros, vigiados e até com vestiários (apenas uma vaga de automóvel permite estacionar confortavelmente sete bicicletas). Tomamos como exemplo a crescente falta de vagas na FURB. Além de cursos ciclísticos para os estudantes irem pedalando e o ensino nas auto-escolas de como dirigir ao cruzar um ciclista (na Alemanha isto é comum). O trânsito seria menos perigoso e alguns optariam pela bicicleta em função da demanda ciclística em Blumenau ser fortíssima, conforme pesquisas feitas.
Hoje a bicicleta evoluiu bastante, e um bom sistema de marchas em subidas curtas é suficiente. A maioria dos deslocamentos ocorre nas áreas planas, o que com rotas cicloviárias seria perfeitamente atendida. A título de exemplo, a cidade de Basiléia, na Suíça, possui topografia mais acidentada que Blumenau, porém o uso da bicicleta por lá é oito vezes maior, situando-se em aproximadamente 17%. Em Blumenau situa-se em apenas 2%. Outra grande questão crucial da cidade é que os destinos precisam ser menos descentralizados e mais concentrados, a exemplo que ocorre nas cidades européias. Quanto mais descentralizamos, mais precisamos construir avenidas que demandam desapropriações cada vez mais onerosas ao município pela valorização natural do solo urbano, encarecendo ainda mais a construção de novas vias para o automóvel. E a própria topografia encarece a abertura de novas vias.
Surge daí a necessidade de melhorar também o transporte coletivo para aproveitar ao máximo o reduzido espaço disponível, com faixas (ou pistas quando possível) exclusivas para ônibus, que tornariam mais precisos os horários, adotando-se nestes o uso leve do ar-condicionado, principalmente no verão. Hoje, o ônibus lotado e sem ar-condicionado tem que disputar o mesmo espaço no engarrafamento com os automóveis. Como cidadão, prefere-se com razão ficar no automóvel, mesmo engarrafado, porém com ar-condicionado e com mais conforto. Apesar de ser o automóvel uma invenção fantástica, somos obrigados a utilizá-lo quase sempre, pelo fato das ruas serem desenhadas apenas para ele, realimentando-se o círculo da necessidade de mais vias cada vez mais caras.
Observa-se que a nossa vida cotidiana não precisaria ser assim. A ida à padaria, academia, escola, reuniões comunitárias, passeios, ir ao correio, levar o filho na creche, no supermercado ou fazer pequenas compras e até um passeio no shopping, são algumas situações do cotidiano que, em viagens de até três quilômetros, uma bicicleta o faz em no máximo quinze minutos. Dados da OMS indicam que trinta minutos de movimentação diária reduzem em aproximadamente cinqüenta por cento as doenças relacionadas à obesidade. Ademais, quem realmente precisaria do automóvel para ir ao trabalho ou para distâncias maiores de cinco quilômetros, teria um trânsito menos congestionado, menos poluído, menos ruidoso e com mais fluidez, pois alguns iriam, ora de ônibus, ora pedalando. É apenas uma questão de Planejamento, Publicidade, Treinamento e Eficiência pública para melhoria do transporte em Blumenau. O Meio Ambiente, a Saúde da população e o trânsito agradeceriam e Blumenau poderia ser chamada de cidade européia. Tomando-se como exemplo o que ocorre nos países de primeiro mundo, que têm altos índices de viagens de bicicleta (Holanda 27%, Dinamarca 20%, Suíça 15%, Alemanha 10%). Não precisamos de remendo, precisamos de Planejamento Urbano.
FABRÍCIO JOSÉ BARBOSA/ Arquiteto, Urbanista e membro da Associação Blumenauense pró-Ciclovias
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